terça-feira, 6 de junho de 2017

Álbuns brasileiros dos anos 70

A música brasileira é um universo muito rico, que abrange uma grande variedade de ritmos e melodias, desde a música indígena dos vários povos que habitaram e ainda habitam o Brasil, passando pelo samba de raiz de nomes como Adoniram Barbosa e Cartola. Assim como pela bossa nova – derivada desse mesmo samba e somada a influencias de jazz – lançada nos 50 por João Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Tal qual a Tropicália, de caráter bastante político e militante, surgida no final dos anos 1960 e representada por Caetano, Gil, Tom Zé, entre outros artistas, principalmente músicos. Estes, são apenas alguns, entre vários outros movimentos musicais que ocorreram ao longo da história do país.

Sendo a década de 70, tanto no Brasil como no mundo todo, um desses outros períodos marcantes e ilustres. Rock clássico, disco music, punk, R&B (rhythm and blues), funk, o rock progressivo originário da psicodelia sessentista, etc., são todos estilos derivados e popularizados nos anos de 1970. E a lista de ícones brasileiros, sejam bandas ou artistas solo, oriundos dessa época é farta: Baden Powell, Chico Buarque, Elis Regina, Erasmo Carlos, Novos Baianos, Maria Betânia, Raul Seixas, Secos e Molhados, Wilson Simonal, e por aí vai. Pois bem, a ideia aqui é trabalhar exatamente com três álbuns lançados neste ínterim [anos 70], e por três artistas tão idolatrados e importantes quanto os que já foram citados. Então, aqui vamos nós...

Tudo Foi Feito Pelo Sol (1974) – Mutantes

Com músicas mais longas, elaboradas e letras esotéricas, que tratam (basicamente) de um desabrochar da mente, libertador, que eleva o ser, ou em outras palavras: “E quem bebeu a luz do sol; Não pode mais beber a escuridão; Sinta que a luz verdade é mais forte; E eles morrerão; E eu fico com Deus”, Tudo Foi Feito Pelo Sol foi originalmente lançado em 1974 e é o sexto álbum dos Mutantes. Da formação original, com Arnaldo Baptista, Rita Lee e Sérgio Baptista, somente o último dos irmãos Baptista – o guitarrista Sérgio – participou da gravação do disco que marcou o despertar da banda para o rock progressivo, geralmente, recebendo por grande parte da crítica musical a atribuição com um dos melhores discos brasileiros do gênero.

Formação dos Mutantes que gravou o álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol:
Túlio Mourão, Sérgio Dias,  Rui Motta e Antônio Pedro de Medeiros.
Foto: Blog Merece Destaque/Reprodução.

Tim Maia – Racional Volume 1 (1975) e Volume 2 (1976)

A Cultura Racional – seita filosófico-religiosa brasileira fundada na década de 1930 pelo médium Manoel Jacintho Coelho – proporcionou o melhor de Tim Maia e da banda Seroma, tanto criativa como tecnicamente. Sua inserção na Cultura Racional era tão profunda, que as mensagens do Universo em Desencanto – série livros escritos por Manoel e essenciais na Cultura – passadas através das letras, soam verdadeiramente genuínas da mais íntima crença do cantor carioca. O que tira o foco do ouvinte da doutrinação e do apelo das músicas e coloca-o na essência das palavras proferidas em si, cujo são mais uma exaltação dos “comos” e “porquês” faz sentido a busca pela Imunização Racional, cantada assim: “Que beleza é saber seu nome; Sua origem, seu passado; E seu futuro; Que beleza é conhecer; O desencanto; E ver tudo bem mais claro; No escuro”. Ambos volumes de Tim Maia Racional, o primeiro lançado em 1975 e o segundo em 1976, são absurdamente incríveis e merecedores da designação de melhor fase do músico.
Tim Maia e o Coro Racional.
Foto: Filhos do Racional Superior/Reprodução.

Jorge Ben – África Brasil (1976)

África Brasil começa seu Lado A com a história do ponta de lança africano, Umbabarauma, que: “Pula, pula, cai, levanta; Sobe, desce, corre, chuta; Abre espaço; Vibra e agradece”. Depois passa pela Tábua de Esmeralda, texto de Hermes Trismegisto que viveu o antigo Egito e deu origem à Alquimia. Após isso, faz referência ao mausoléu construído no século XVII a mando do imperador Shah Jahan em memória à sua esposa favorita – o Taj Mahal. O Lado B, apresenta Xica da Silva, “A imperatriz do Tijuco; a dona de Diamantina”, escrava brasileira posteriormente alforriada, figura histórica nacional. Também fala de Zico, o galinho de Quintino, em “Camisa 10 da Gávea”. Na sequência, aparece a figura de São Jorge, “Ministro de Zambi na Terra; O Príncipe de toda África”. Por fim, Jorge Ben alude Zumbi, personagem histórico e líder do Quilombo dos Palmares. Isso, na música homônima do seu décimo quarto álbum de estúdio, lançado em 1976, onde definitivamente introduziu a guitarra elétrica no seu repertório, consolidando uma fusão de gêneros musicais entre a música afro-brasileira e a música afro-estadunidense. 
Jorge Ben e a banda Admiral Jorge V durante as gravações do África Brasil.
Foto: Sinister Salad Musikal's Weblog/Reprodução.

Marcus Tamujo, acadêmico do 8º semestre de Jornalismo da Universidade Feevale.

Nenhum comentário:

Postar um comentário