A música brasileira é um universo muito rico,
que abrange uma grande variedade de ritmos e melodias, desde a música indígena
dos vários povos que habitaram e ainda habitam o Brasil, passando pelo samba de
raiz de nomes como Adoniram Barbosa e Cartola. Assim como pela bossa nova – derivada
desse mesmo samba e somada a influencias de jazz – lançada nos 50 por João
Gilberto, Tom Jobim e Vinícius de Moraes. Tal qual a Tropicália, de caráter
bastante político e militante, surgida no final dos anos 1960 e representada
por Caetano, Gil, Tom Zé, entre outros artistas, principalmente músicos. Estes,
são apenas alguns, entre vários outros movimentos musicais que ocorreram ao
longo da história do país.
Sendo a década de 70, tanto no Brasil como no
mundo todo, um desses outros períodos marcantes e ilustres. Rock clássico,
disco music, punk, R&B (rhythm and blues), funk, o rock progressivo
originário da psicodelia sessentista, etc., são todos estilos derivados e
popularizados nos anos de 1970. E a lista de ícones brasileiros, sejam bandas
ou artistas solo, oriundos dessa época é farta: Baden Powell, Chico Buarque,
Elis Regina, Erasmo Carlos, Novos Baianos, Maria Betânia, Raul Seixas, Secos e
Molhados, Wilson Simonal, e por aí vai. Pois bem, a ideia aqui é trabalhar
exatamente com três álbuns lançados neste ínterim [anos 70], e por três
artistas tão idolatrados e importantes quanto os que já foram citados. Então,
aqui vamos nós...
Tudo
Foi Feito Pelo Sol (1974) – Mutantes
Com músicas mais longas, elaboradas e letras
esotéricas, que tratam (basicamente) de um desabrochar da mente, libertador,
que eleva o ser, ou em outras palavras: “E quem bebeu a luz do sol; Não pode
mais beber a escuridão; Sinta que a luz verdade é mais forte; E eles morrerão;
E eu fico com Deus”, Tudo Foi Feito Pelo Sol foi originalmente lançado em 1974
e é o sexto álbum dos Mutantes. Da formação original, com Arnaldo Baptista,
Rita Lee e Sérgio Baptista, somente o último dos irmãos Baptista – o
guitarrista Sérgio – participou da gravação do disco que marcou o despertar da
banda para o rock progressivo, geralmente, recebendo por grande parte da
crítica musical a atribuição com um dos melhores discos brasileiros do gênero.
Formação dos Mutantes que gravou o álbum Tudo Foi Feito Pelo Sol: Túlio Mourão, Sérgio Dias, Rui Motta e Antônio Pedro de Medeiros. Foto: Blog Merece Destaque/Reprodução. |
Tim
Maia – Racional Volume 1 (1975) e Volume 2 (1976)
A Cultura Racional – seita filosófico-religiosa
brasileira fundada na década de 1930 pelo médium Manoel Jacintho Coelho –
proporcionou o melhor de Tim Maia e da banda Seroma, tanto criativa como
tecnicamente. Sua inserção na Cultura Racional era tão profunda, que as
mensagens do Universo em Desencanto –
série livros escritos por Manoel e essenciais na Cultura – passadas através das
letras, soam verdadeiramente genuínas da mais íntima crença do cantor carioca. O
que tira o foco do ouvinte da doutrinação e do apelo das músicas e coloca-o na
essência das palavras proferidas em si, cujo são mais uma exaltação dos “comos”
e “porquês” faz sentido a busca pela Imunização Racional, cantada assim: “Que
beleza é saber seu nome; Sua origem, seu passado; E seu futuro; Que beleza é
conhecer; O desencanto; E ver tudo bem mais claro; No escuro”. Ambos volumes de
Tim Maia Racional, o primeiro lançado em 1975 e o segundo em 1976, são
absurdamente incríveis e merecedores da designação de melhor fase do músico.
Tim Maia e o Coro Racional. Foto: Filhos do Racional Superior/Reprodução. |
Jorge
Ben – África Brasil (1976)
África Brasil começa seu Lado A com a história
do ponta de lança africano, Umbabarauma, que: “Pula, pula, cai, levanta; Sobe,
desce, corre, chuta; Abre espaço; Vibra e agradece”. Depois passa pela Tábua de
Esmeralda, texto de Hermes Trismegisto que viveu o antigo Egito e deu origem à
Alquimia. Após isso, faz referência ao mausoléu construído no século XVII a
mando do imperador Shah Jahan em memória à sua esposa favorita – o Taj Mahal. O
Lado B, apresenta Xica da Silva, “A imperatriz do Tijuco; a dona de
Diamantina”, escrava brasileira posteriormente alforriada, figura histórica
nacional. Também fala de Zico, o galinho de Quintino, em “Camisa 10 da Gávea”.
Na sequência, aparece a figura de São Jorge, “Ministro de Zambi na Terra; O
Príncipe de toda África”. Por fim, Jorge Ben alude Zumbi, personagem histórico
e líder do Quilombo dos Palmares. Isso, na música homônima do seu décimo quarto
álbum de estúdio, lançado em 1976, onde definitivamente introduziu a guitarra
elétrica no seu repertório, consolidando uma fusão de gêneros musicais entre a
música afro-brasileira e a música afro-estadunidense.
Jorge Ben e a banda Admiral Jorge V durante as gravações do África Brasil. Foto: Sinister Salad Musikal's Weblog/Reprodução. |
Marcus Tamujo, acadêmico do 8º semestre de Jornalismo da Universidade Feevale.
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