"O paradoxo da educação é que ao
ter consciência, passa-se a examinar a sociedade onde se é educado." -
James Baldwin
E
é com este tapa na cara, que somos introduzidos a uma verdadeira sequência de
tapas na cara, que é o mundo de "Dear White People".
Lançada
no dia 28 de abril de 2017, pela nossa tão querida Netflix, Dear White People,
infelizmente, não recebeu a atenção merecida, pois teve o azar de ser lançada
em meio ao hype monstruoso da série, também "Netflixiana", 13 Reasons
Why.
Porém, mesmo
com a fraca divulgação na época de sua estreia, DWP vêm ganhando notoriedade,
embora de um modo um tanto negativo, por ser a série, até então, com o maior
número de dislikes em seu teaser no YouTube (mais de 400 mil) e, também, por
ter sido a responsável por um grande número de cancelamentos de assinatura no
sistema de streaming. Tudo isso por ser acusada de "racismo reverso".
Entretanto,
nenhum desses fatos diminui a importância de DWP, na verdade, só aumentam ainda
mais, pois provam que, além de tocar em algo delicado, a série é feita para
pessoas com maturidade o suficiente para encará-la de forma correta.
É, meu caro
amigo "branco oprimido", este show não é sobre você.
Pôster oficial da série Foto: Netflix/reprodução |
Com uma linguagem sarcástica, dando ao show um tom de drama com toque de comédia, DWP é ambientada na Universidade Winchester. Sua narrativa é contada de forma não linear, isto é, há constantes mudanças de perspectiva e flashbacks, esta característica se deve, principalmente, ao fato da série não possuir um único protagonista, ou seja, ela é contada sob diferentes visões, com um capítulo destinado para cada personagem, onde descobrimos não somente as suas pretensões dentro da militância estudantil, mas sim, os seus dilemas pessoais.
A
série inicia-se em uma festa blackface,
cujo anfitrião é o grupo mais elitista da universidade. A motivação deste grupo
é das mais torpes. Tudo ocorreu porque eles estão revoltados com Samantha White
(Sam), aluna negra, ativista e a principal personagem da série. Estudante de
audiovisual, Sam possuí uma rádio no campus, cujo nome é "Cara Gente
Branca", onde ela fala abertamente sobre questões raciais pertinentes,
tais como: blackface, apropriação
cultural, violência policial contra negros, etc.
No
entanto, a tal festa é somente a ponta do iceberg para conflitos muito mais
tensos, os quais vão sendo revelados ao longo da trama, sejam eles futuros, ou
parte do passado de cada personagem.
A
grande sacada de Dear White People se dá, justamente, nesses elementos, pois a
mesma explora, de forma microcósmica, em um campus que se diz "pós racial",
questões macrocósmicas, isto é, de mundo. Como por exemplo: solidão e bullying,
como conta a infância de Coco, onde a mesma era hostilizada e excluída, desde a
creche, por ser negra; padrão de beleza, quando Sam e Coco param de alisar os
seus cabelos e passam a usa-los de forma natural; passibilidade branca, isto é,
quanto mais escura a sua pele for, pior você será tratado; violência policial,
no momento em que os policiais do campus apontam uma arma para Reggie;
relacionamentos inter-raciais, no caso de Sam e seu namorado branco, Gabe;
racismo reverso, nos diversos momentos em que, de forma sarcástica e descarada,
a série nos toca na cara a inexistência de pessoas brancas sendo oprimidas pela
sua cor; racismo estrutural e repressão, ao fato da Winchester se dizer
"pós racial”, mas, a diferença de número entre alunos brancos e negros ser
gritante. Juntamente com a repressão sofrida toda vez que há protestos e atos
da UAN (grupo de negros militantes da Winchester, sendo Sam a líder do mesmo)
por parte do reitor da instituição, sendo que o mesmo também é negro.
Além
de todos os assuntos citados, a outra grande sacada da série se dá em dedicar
um episódio por personagem, onde não somente a militância é explorada mas sim as histórias, motivações
pessoais e demais conflitos internos dos mesmos. De forma a humaniza-los,
provando que há vida além de atos e protestos. E que, acima de tudo, há pessoas
frágeis e que erram, assim como qualquer uma.
Cena do primeiro episódio Foto: thevisibilityproject/reprodução |
Por fim, a odisseia de negros em uma
instituição em colapso, onde todo o tipo de violência e segregação parece
normal, nada mais é do que o reflexo de uma sociedade doente, que, embora
esteja no mundo de uma série, é um reflexo assustadoramente real. Como se Dear
White People possuísse um espelho, onde uma ferida aberta, enorme e dolorida
nos fosse mostrada e tocada, de modo a ficarmos inertes diante da dor causada
por cada um de nós, a Cara Gente Branca.
Rafaela Kolling Bickel, acadêmica do 1° Semestre de
Jornalismo na Universidade Feevale
Agora, mais do que nunca, eu PRECISO assistir essa série!!
ResponderExcluirO texto ficou ótimo. Parabéns!!
Obrigada!!! <3
ExcluirE assista DWP, pois vale a pena!!!
É uma série boa e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Lena Waithe nesta série. A vi recentemente em Jogador No 1, se você esta procurando assistir filmes de ação 2018 eu recomendo! É um filme muito bom, é uma boa opção para uma tarde de filmes. Se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo, na minha opinião, este foi uma dos melhores filmes que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, a historia está bem estruturada, o final é o melhor.
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