segunda-feira, 5 de junho de 2017

Cara série necessária: Este show não é sobre você, é para você


 "O paradoxo da educação é que ao ter consciência, passa-se a examinar a sociedade onde se é educado." - James Baldwin

E é com este tapa na cara, que somos introduzidos a uma verdadeira sequência de tapas na cara, que é o mundo de "Dear White People".

Lançada no dia 28 de abril de 2017, pela nossa tão querida Netflix, Dear White People, infelizmente, não recebeu a atenção merecida, pois teve o azar de ser lançada em meio ao hype monstruoso da série, também "Netflixiana", 13 Reasons Why.

Porém, mesmo com a fraca divulgação na época de sua estreia, DWP vêm ganhando notoriedade, embora de um modo um tanto negativo, por ser a série, até então, com o maior número de dislikes em seu teaser no YouTube (mais de 400 mil) e, também, por ter sido a responsável por um grande número de cancelamentos de assinatura no sistema de streaming. Tudo isso por ser acusada de "racismo reverso".

Entretanto, nenhum desses fatos diminui a importância de DWP, na verdade, só aumentam ainda mais, pois provam que, além de tocar em algo delicado, a série é feita para pessoas com maturidade o suficiente para encará-la de forma correta.
É, meu caro amigo "branco oprimido", este show não é sobre você.

Pôster oficial da série
Foto: Netflix/reprodução

         Com uma linguagem sarcástica, dando ao show um tom de drama com toque de comédia, DWP é ambientada na Universidade Winchester. Sua narrativa é contada de forma não linear, isto é, há constantes mudanças de perspectiva e flashbacks, esta característica se deve, principalmente, ao fato da série não possuir um único protagonista, ou seja, ela é contada sob diferentes visões, com um capítulo destinado para cada personagem, onde descobrimos não somente as suas pretensões dentro da militância estudantil, mas sim, os seus dilemas pessoais. 

A série inicia-se em uma festa blackface, cujo anfitrião é o grupo mais elitista da universidade. A motivação deste grupo é das mais torpes. Tudo ocorreu porque eles estão revoltados com Samantha White (Sam), aluna negra, ativista e a principal personagem da série. Estudante de audiovisual, Sam possuí uma rádio no campus, cujo nome é "Cara Gente Branca", onde ela fala abertamente sobre questões raciais pertinentes, tais como: blackface, apropriação cultural, violência policial contra negros, etc.


    
Samantha White, protagonista da série
Foto: popsugar/reprodução
    

No entanto, a tal festa é somente a ponta do iceberg para conflitos muito mais tensos, os quais vão sendo revelados ao longo da trama, sejam eles futuros, ou parte do passado de cada personagem.

Troy Fairbanks em sua campanha
Foto: avclub/reprodução
A grande sacada de Dear White People se dá, justamente, nesses elementos, pois a mesma explora, de forma microcósmica, em um campus que se diz "pós racial", questões macrocósmicas, isto é, de mundo. Como por exemplo: solidão e bullying, como conta a infância de Coco, onde a mesma era hostilizada e excluída, desde a creche, por ser negra; padrão de beleza, quando Sam e Coco param de alisar os seus cabelos e passam a usa-los de forma natural; passibilidade branca, isto é, quanto mais escura a sua pele for, pior você será tratado; violência policial, no momento em que os policiais do campus apontam uma arma para Reggie; relacionamentos inter-raciais, no caso de Sam e seu namorado branco, Gabe; racismo reverso, nos diversos momentos em que, de forma sarcástica e descarada, a série nos toca na cara a inexistência de pessoas brancas sendo oprimidas pela sua cor; racismo estrutural e repressão, ao fato da Winchester se dizer "pós racial”, mas, a diferença de número entre alunos brancos e negros ser gritante. Juntamente com a repressão sofrida toda vez que há protestos e atos da UAN (grupo de negros militantes da Winchester, sendo Sam a líder do mesmo) por parte do reitor da instituição, sendo que o mesmo também é negro.

Além de todos os assuntos citados, a outra grande sacada da série se dá em dedicar um episódio por personagem, onde não somente a militância é explorada mas sim as histórias, motivações pessoais e demais conflitos internos dos mesmos. De forma a humaniza-los, provando que há vida além de atos e protestos. E que, acima de tudo, há pessoas frágeis e que erram, assim como qualquer uma.


Cena do primeiro episódio
Foto: thevisibilityproject/reprodução

Por fim, a odisseia de negros em uma instituição em colapso, onde todo o tipo de violência e segregação parece normal, nada mais é do que o reflexo de uma sociedade doente, que, embora esteja no mundo de uma série, é um reflexo assustadoramente real. Como se Dear White People possuísse um espelho, onde uma ferida aberta, enorme e dolorida nos fosse mostrada e tocada, de modo a ficarmos inertes diante da dor causada por cada um de nós, a Cara Gente Branca.


Rafaela Kolling Bickel, acadêmica do 1° Semestre de Jornalismo na Universidade Feevale







3 comentários:

  1. Agora, mais do que nunca, eu PRECISO assistir essa série!!
    O texto ficou ótimo. Parabéns!!

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    1. Obrigada!!! <3
      E assista DWP, pois vale a pena!!!

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  2. É uma série boa e muito interessante, sinto que história é boa, mas o que realmente faz a diferença é a participação de Lena Waithe nesta série. A vi recentemente em Jogador No 1, se você esta procurando assistir filmes de ação 2018 eu recomendo! É um filme muito bom, é uma boa opção para uma tarde de filmes. Se ainda não tiveram a oportunidade de vê-lo, eu recomendo, na minha opinião, este foi uma dos melhores filmes que foi lançado. O ritmo é bom e consegue nos prender desde o princípio, a historia está bem estruturada, o final é o melhor.

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