sexta-feira, 28 de abril de 2017

Depressão: Ainda um tabu?

Nas últimas semanas se tornou comum ouvir falar sobre suicídio, depressão e os jogos da morte, principalmente a Baleia Azul, conduzindo-nos a questionar os porquês de alguns jovens se envolverem em ações tão perigosas e quais as repercussões disso na mídia e em sociedade. Então fica a reflexão inicial: Você acha que uma pessoa psicologicamente saudável, que tem uma boa relação com a família, vive em boas condições financeiras e em um ambiente estável, iria jogar esse jogo? 

(Wiki Mundo Animal/Reprodução)
O Jogo da Baleia Azul, surgido na Rússia deixou duas vítimas em 2015. As jovens Yulia Konstantinova, 15 anos, e Veronika Volkova, 16 anos, saltaram de um edifício após terem publicado em seus facebooks “#I_am_bluewhale” (eu sou baleia azul), uma foto de uma baleia azul e “END”(Fim). Em maio de 2016 outro caso sob investigação envolveu o suicídio de uma menina de 14 anos que se atirou na frente de um trem, cerca de uma semana depois da morte das moças. De acordo com dados do Novaia Gazeta, jornal russo responsável pela investigação e revelação do caso Baleia Azul, consta que mais de 100 vítimas de suicídios ocorridos entre 2015 e maio de 2016 teriam envolvimento com comunidades na qual o jogo era disseminado. No jogo os participantes ao serem selecionados por um “curador” passam a realizar provas diárias, dentre as quais encontra-se: acordar no meio da madrugada para assistir a filmes de terror ou ouvir músicas psicodélicas, mutilar-se, ir para lugares altos e ficar na beira durante algumas horas e, ao final do processo, cometer suicídio. 

(Move Notícias/Reprodução)
Além desse, outros jogos da morte têm sido espalhados na internet e alguns não deixam explicito o resultado, como é o caso do Jogo da Fada ou a Fada de Fogo, outro caso russo. Destinado para o público feminino infantil e que utilizava como propaganda o Clube das Winx (animação televisiva que conta a história de fadas que estudam em uma escola de magia), o jogo induzia as crianças não apenas ao suicídio, mas a causar a morte de toda a sua família. A brincadeira maliciosa teve como vítima uma menina russa de 5 anos, Sofia Ezhova, que teve grande parte de seu corpo queimada devido a uma explosão. No Brasil houve uma grande repercussão no que tange ao Jogo da Asfixia. Gustavo Riveiros Detter, 13 anos, foi umas das vítimas deixadas pelo jogo. No caso desse jogo, os participantes para serem inseridos no grupo, terem amigos e entre outras razões, participavam via Skype do jogo enquanto outros o assistiam. Além de causar a morte, o jogo pode deixar sequelas devido à falta de oxigenação do sangue, desde insuficiência cardíaca até enfarto do miocárdio (parada cardíaca) como foi dito por Daniel Magnoni, cardiologista do Hospital do Coração de São Paulo (HCor) em entrevista à VEJA.com.

(MedoB/Reprodução)
O tema tem preocupado pais e profissionais da área da saúde, uma vez que o índice de depressão com casos de tentativa de suicídio entre jovens tem aumentado nos últimos anos. Segundo dados da OMS (Organização Mundial de Saúde) estima-se que mais de 350 milhões de pessoas tem depressão, no Brasil 17 milhões de habitantes que possuem o transtorno. De acordo com a diretora da OPAS/OMS, Carissa F. Etienne: “Depressão é a principal causa de incapacidade em todo o mundo e contribui de forma muito importante para a carga global de doenças. Mais mulheres são afetadas pela depressão que os homens. No pior dos casos, a depressão pode levar ao suicídio” e acrescenta “a depressão não discrimina e pode afetar pessoas de todas as idades, raças e origens”. 

A depressão é colocada em cena como o que de fato é: uma patologia. Não mais como “chamar atenção” ou “falta de ter o que fazer”, é uma doença que acomete milhões de pessoas, isso baseando-se em dados de pessoas que buscam ajuda e tratamento. E quanto as pessoas que não buscam ajuda? Que sentem vergonha? Que não entendem que precisam dessa ajuda porque foram talhados para “ser fortes o suficiente para sair dessa situação sozinhos”? Ou ainda aquelas que pedem auxílio e não são ouvidas. O que devem fazer?

O youtuber Felipe Neto produziu um vídeo sobre o tema, no qual afirmou: “A depressão não é uma fase, não é ‘Ah meu Deus... É só você ir para a igreja. Isso vai passar. Pense em coisas boas’ A depressão é uma doença. E já passou da hora da gente estabelecer e disseminar essa ideia. O Brasil é oitavo país onde mais se comete suicídio no mundo: OITAVO! Nos últimos 25 anos a taxa de suicídio entre jovens aumentou 30%. A cada 40 segundos uma pessoa se mata no mundo, são mais de 800 mil pessoas se matando por ano” ele afirma ainda que “75% dos suicídios no mundo ocorrem em países de baixa e média renda. [...] A OMS revelou uma pesquisa que provou que até 2020 a depressão vai ser a doença mais incapacitante do mundo”. 

(Titles Facebook/Reprodução)
Desde o seu pronunciamento os noticiários, programas televisivos, revistas e outras mídias passaram a discutir o assunto. Em contramedida à Baleia Azul surgiram movimentos como a Baleia Rosa, a Baleia Verde, o Coelho Branco e a Preguiça Azul que objetivam atingir as pessoas com depressão e auxiliá-las, propondo exercícios diários para aumento da autoestima que valorizam a saúde e o bem-estar, em prol da preservação da vida.  Em Novo Hamburgo, algumas escolas iniciaram uma espécie de campanha contra os jogos da morte, em especial a Baleia Azul, de maneira preventiva. O Colégio Cenecista Felipe Tiago Gomes promoveu atividades para conscientizar os pais dos alunos. “Fizemos um movimento de Alerta. Mesmo que nenhum caso tenha acontecido no colégio, estamos tomando essa iniciativa de forma preventiva”, explicação dada pela coordenadora pedagógica da escola, Ana Lúcia Pires em entrevista ao Jornal NH. 

(Baleia Rosa Oficial Facebook/Reprodução)
A Universidade Feevale também fez sua parte, está promovendo atendimentos gratuitos nesta semana para acolher a auxiliar pessoas que possuam dúvidas em relação a temática do suicídio, o jogo Baleia Azul e a série 13 Reasons Why, no CIP (Centro Integrado de Psicologia). 

Segundo a coordenadora do CIP, Carmen Esther Rieth “[...] até o momento ninguém procurou o CIP em busca de orientações. A ausência de resposta por parte da comunidade ao espaço oferecido para conversar sobre o tema suicídio nos faz pensar em algumas coisas: Em primeiro lugar, sobre o tabu que ainda paira sobre o assunto. Há um certo pânico em torno da temática - gerado pela repercussão exacerbada nas mídias sociais e a mídia de um modo geral - mas que ainda é cercado pela nossa ilusão de que estas "coisas" não acontecem com a gente. Ou seja, observa-se uma negação maciça da sociedade em tratar dos temas "morte", "luto" e, ainda mais "suicídio".  O assunto é de fato discutido, mas apenas em ambientes virtuais que apresentam apenas o horror e o medo”. 

Carmen acrescenta ainda que “Outro aspecto que nos chama a atenção é, exatamente, o comportamento midiático que se observa na atualidade. Tivemos em nosso post, onde oferecemos os horários para conversar sobre o tema, quase 54 mil visualizações e perto de 600 compartilhamentos. A resposta virtual foi enorme, mas sem resposta real.  Então, todos falam sobre o tema, mas há dificuldades em buscar ajuda especializada. Mais uma vez vemos que o tabu sobre o assunto e também o receio que ainda existe em buscar auxílio psicológico são persistentes em manter as pessoas distantes dessa realidade, que para elas pode parecer distante. E esse é, exatamente, o ponto que nos preocupa! O suicídio entre jovens tem aumentado consideravelmente e já faz bastante tempo que essa situação tem persistido... A depressão é uma das causas mais frequentes para o suicídio. É uma doença e pode ser tratada. Mas o que acontece quando as pessoas não buscam ajuda profissional?  Penso que o momento é propício para essas reflexões... o fortalecimento das relações familiares, das funções paternas e maternas, a presença REAL (não virtual) dos pais na vida dos filhos, atentar para sinais que possam indicar que algo não vai bem e PROCURAR ajuda profissional”. 

O ponto positivo de toda essa comoção é o fato de a depressão e o suicídio terem vindo à tona, para desmistificar e acabar com alguns dos idealismos no entorno da doença e de suas consequências. Acredito que mais pessoas deixarão de se envergonhar por terem o problema, que pais irão olhar mais para seus filhos, que as pessoas irão ser mais gentis e atenciosas umas com as outras e aprenderão a buscar ajuda para superar essa disfunção social, como é tratado por Emilé Durkheim, ou essa patologia, como foi dito por Sigmund Freud. 

*Se você precisa de ajuda, ou alguém próximo, busque um Centro de Valorização da Vida (CVV), ligue 141. Você pode salvar uma vida!

Marina Klein Telles, acadêmica do 1ºsemestre de Jornalismo da Universidade Feevale

Nenhum comentário:

Postar um comentário