Um olhar apurado com
muito senso de humor é a essência do blog Desilusões Perdidas, que traz o personagem Duda Rangel, um jornalista desempregado e
deixado pela mulher para falar sobre a profissão. Criado
pelos irmãos Anderson e Emerson Couto formados em Jornalismo na Universidade Metodista de São Paulo (Umesp), Duda Rangel respondeu a algumas perguntas sobre a nada
mole vida de um profissional de jornalismo.
Você é um jornalista desempregado, que foi
deixado pela esposa após “anos e anos de pescoções”. Nunca pensou em largar
desta vida e seguir outra profissão?
Apesar
de todas as dificuldades que já enfrentei em minha carreira, nunca pensei em
desistir da profissão. É a minha paixão. Jornalismo é como o colesterol ruim,
está no meu sangue.
Você também perdeu a guarda do seu cachorro
Nestor, como está sendo a vida desde então? Muitos freelas?
Sim,
graças aos freelas, ainda consigo pagar o aluguel do meu superapê de 49 metros
quadrados. Quanto ao Nestor, o vejo a cada 15 dias. Saio sempre para passear
com ele. O Nestor é meio jornalista também: tem
faro apurado, adora um agradinho e já está acostumado a levar bronca quando faz
merda.
O que te levou a cursar Jornalismo? Se não
fosse jornalista, seria o quê?
Sempre
gostei de contar histórias, aliás a única coisa que faço razoavelmente bem na
vida é contar histórias. Por isso, decidi cursar Jornalismo. Não seria outra
coisa na vida.
Durante sua carreira, qual foi o pior e
melhor momento?
Tive
bons momentos no jornalismo. Um dos melhores foi quando assinei a primeira
matéria. Ver o nome no jornal é uma sensação muito boa para um jovem. A pior
foi quando o jornal em que trabalhei a vida inteira me colocou em um “programa
de reorganização de seu pessoal na busca de uma adequação à realidade global”.
Ou seja: me deu um pé na bunda.
Por que jornalista gosta tanto de tomar café?
Acho
que é para vencer o cansaço e não dormir no meio de uma pauta ou enquanto
escreve um texto.
Qual música e/ou filme você diria que retrata mais fielmente a dura profissão de jornalista?
Tem
um filme sobre jornalismo que gosto muito chamado “A montanha dos sete
abutres”. Ele não retrata o jornalismo como um todo, mas um tipo de jornalismo
que vemos até hoje, que busca o sensacionalismo a qualquer custo.
Que livro é uma leitura obrigatória para
formação de um bom profissional?
É
difícil dizer apenas um. Existem muitos. Sobre jornalismo, sempre indico o
“Ilusões perdidas”, do francês Honoré de Balzac. O nome do meu blog é inspirado
nesta obra.
O que um jornalista que vai cobrir uma
manifestação deve fazer para se manter seguro?
O
jornalista, em qualquer cobertura em que existem riscos à sua segurança, deve
saber quais são os seus limites de atuação, até onde pode ir. E, claro, usar
equipamentos de proteção, quando necessários.
Um dos textos do blog é sobre “10 razões para
namorar um jornalista”, mas e quais seriam os pontos negativos em namorar um
jornalista?
Olha,
são tantos, que eu precisaria de uma semana para responder só a esta pergunta.
Prefiro que cada pessoa que namora um jornalista reflita sobre os perrengues de
sua relação. Aguentar um namorado jornalista que, na mesa de um bar, só fala de
jornalismo com seus colegas jornalistas é um exemplo.
Qual seria na tua opinião as piores manias
que um jornalista pode ter?
As
manias de achar que sabe tudo e de ter opinião para tudo.
Se o Félix da novela “Amor à vida” fosse
jornalista. Como e quem ele seria?
Estou
escrevendo um post sobre os personagens desta novela, caso fossem jornalistas.
Devo publicar no blog na semana que vem. O Félix seria a colunista de fofoca má, famosa pelo bordão
“salguei a boca-livre”.
Em algumas séries, filmes e novelas existem
personagens que são jornalistas, porém nem sempre a profissão é retratada de
acordo com a realidade. Seria o caso de dizer que a ficção não imita a vida?
A boa
ficção é um retrato da realidade. Agora, a má ficção...
O fato de todo jornalista querer mudar o
mundo é inspirado no caso de Clark Kent que tem super poderes?
Acredito
que tem um pouco de Clark Kent, sim. Muitos acham que podem mudar o mundo por
idealismo. No fundo, todos quebram a cara. Tem jornalista que não consegue nem salvar
o texto que está escrevendo, como vai conseguir salvar o mundo? É muita
pretensão, né? Se conseguirmos mudar uma pequena realidade local, já vale a
pena ser jornalista.
Quais são os requisitos básicos para ser um
jornalista acima de média?
Ler
muito, ser interessado, questionador, incomodado, perseverante. Estudar,
estudar, estudar. O jornalista precisa ter uma boa formação cultural, buscar
conhecimento sempre.
Para os pais e amigos de um jornalista, que
recomendações ou que tipo de consolo você daria?
Para
que todos possam entendê-lo. Ele poderia estar roubando, matando, mas só está
trabalhando como jornalista.
Mas, nem só de coisa ruim é feita a
profissão. Quais seriam as vantagens e alegrias de ser jornalista?
O jornalismo é uma profissão apaixonante,
apesar de todos os perrengues do dia a dia. Uma das coisas que mais valorizo é
a oportunidade de conhecer pessoas, viajar, sair pela rua em busca de boas
histórias. Esta experiência é incrível, não só profissionalmente. É uma
experiência de vida.
Karine Brandt
Acadêmica do 6º semestre de Jornalismo
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