Diogo Olivier em entrevista ao Blog (Foto: Gian Couto/Feevale) |
Formado em Jornalismo em 1991, Diogo Olivier Mello,
ou apenas Diogo Olivier, começou a sua carreira no Grupo RBS como repórter
político da Zero Hora. Após 8 anos na editoria, foi convidado por David
Coimbra, então chefe da editoria de esportes, à fazer parte da equipe esportiva
do jornal. Hoje atua como comentarista da RBS TV e colunista de ZH. Após a entrevista, Diogo participou de um bate papo com alunos de jornalismo da universidade Feevale, onde foi questionado sobre diversos assuntos e respondeu a todos os questionamentos.Confira a entrevista que Diogo concedeu à equipe do Blog:
8 anos na editoria de
política de ZH e depois editoria de esportes, onde tu estás até hoje. Esportes
era realmente o que tu ambicionava?
“Era sim. Naquele momento
era e eu não me arrependo. Eu estava numa encruzilhada que as pessoas só me
viam como repórter de política. Só me viam de gravata, indo pra assembleia, indo
pra Brasília, cobrindo eleição e eu não queria ser visto assim. Eu queria ser visto como um repórter, que é
o que eu acredito. Jornalista é, antes de tudo, um repórter e eu, como
colunista, jamais vou deixar de ser repórter. O dia que isso acontecer, eu
estou assinando meu atestado de óbito como Jornalista, tem que sempre ser
repórter.
E era um desafio pra
mim. Será que eu só sei ser repórter de política? Porque depois de oito anos tu
começa a ter fontes, fica mais fáci. Mas eu queria fazer algo diferente, me reinventar.
Foi aí que eu recebi o convite do David Coimbra, que é como se fosse meu irmão
mais velho e sempre me deu dicas. E eu já havia recusado um convite dele antes
quando ele trabalhava no NH. Aí eu aceitei e mudei completamente a minha vida
porque a linguagem e a abordagem no mundo do futebol é completamente diferente
da política. Na política eu estava lá com o governador, o ministro do supremo e
no futebol ninguém sabia que eu existia. Então eu tive que mudar toda agenda,
fontes, a maneira de me relacionar e foi legal, eu gostei do resultado. Fiquei
feliz.
Sportv, Tvcom, Zero
Hora, Rádio Gaúcha e site da ZH. Qual a plataforma que tu mais te identificas?
Eu vou ser sempre um
cara de jornal, gosto de deixar isso bem claro. É impossível tu fazer tudo
super bem, tem uma plataforma que, é óbvio que tu vai fazer melhor. Acho que,
mesmo sendo multimídia, tem que ter essa consciência. Mas o que eu me
identifico e acho que me saio melhor é ali no jornal, porque é minha praia e eu
conheço todos os atalhos. Na TV, pra mim, é algo super novo. Eu sei que eu
nunca vou ser um nota dez ali, eu sempre vou ter muito mais dificuldade do que
as pessoas que estão ali há mais tempo. Mas a lógica do multimídia é isso aí,
tu não pode achar que tu faz bem tudo, porque tu não faz.
Na editoria de
política cobriste eleições e recentemente a Copa do Mundo. Qual foi a cobertura
mais interessante que tu participaste?
Eu fiz algumas legais
fora do Brasil. Cobri a Copa da França, em 1998, o Panamericano de Santo
Domingo em 2003, num país diferente. Então eu já fiz coisas, em tese, mais
importantes. O enterro do Brizola, por exemplo, porque enterro é uma coisa
difícil, tu não podes virar o fio. Não pode ser piegas, mas tu tens que dar a
grandiosidade do acontecimento, como foi agora com o Eduardo Campos. Então, era
difícil de tratar, mas eu sabia que era um momento histórico. Os Desaparecidos
da Ditadura, foi uma investigação que eu fiz com uma colega, a Rosina Duarte,
em 1995. Nós ganhamos um Prêmio de Direitos Humanos com essa matéria. Foi o
primeiro Jornal a colocar o dedo nessa ferida. Várias ossadas sem identificação
na Universidade de Campinas, Fernando Henrique estava entrando e era um homem
que tinha vindo da resistência democrática, então tinha que tocar no assunto.
Falamos com vários familiares, descobrimos várias coisas, foi doloroso. Mas o
mais interessante foi super simples, uma matéria de 30 linhas, num jogo Grêmio
x Brasil – PEL, pela semifinal do Gauchão, o jogo foi para os pênaltis, o
Grêmio ganhou de 9 x 8, foram duas séries, o Danrlei (goleiro do Grêmio) bateu
dois pênaltis, e eu resolvi fazer uma matéria da derrota, olhando pro lado do
perdedor, do jogador que tinha perdido o pênalti. A partida foi no Olímpico,
tinha 4 mil xavantes. E todo mundo olhou o lado do vitorioso e eu resolvi olhar
o lado do derrotado. Aí eu fiquei só observando o cara, do momento em que ele
perdeu o pênalti até ele entrar no vestiário. Ele perdeu, se ajoelhou, começou
a chorar, a torcida bateu palma, vieram outros jogadores e eu escrevi sobre
isso aí. Depois recheei com informações do que estava acontecendo em Pelotas
naquele momento. Aí ficou uma história interessante, ele batendo o pênalti,
como estava Pelotas ouvindo o jogo na rádio e foi uma matéria de 30 linhas,
matéria do dia. E meu primeiro prêmio ARI foi com essa matéria. Não era uma
investigação importante e pra mim ficou muito claro, do ponto de vista
jornalístico, que tu não precisa estar no lugar mais importante do Mundo, no
evento mais importante do Mundo pra fazer uma boa matéria. Eu gosto dessa, me
lembro de cada minuto daquele dia. O nome era “O Destino Entregou Uma Cruz para
Luisinho”, aí tinha uma foto do Luisinho (jogador que perdeu o pênalti)
chorando. E foi uma coisa que só a Zero Hora teve, todo mundo falou do Grêmio e
nós tínhamos uma história diferente. E vinte anos depois, está acontecendo isso
aí, vai sobreviver no mercado quem tiver esse olhar diferente.
Diogo, uma dica para
os Jornalistas que estão se formando e entrando para o mercado de trabalho.
Tem que buscar o
estágio em algum lugar. É uma coisa complicada, eu fui estagiário e sei bem
como é, não temos a regulamentação do estágio para jornalismo como há em outras
áreas. Essa transição da academia para o mercado, eu não consigo ver outro meio
que não seja este. O que tu não pode pensar é que a faculdade não vai te
ensinar nada que tu vai aprender toda a prática no dia a dia, isso é uma grande
falácia. A academia te dá conteúdo, a rotina de fazer maior ou menor o texto tu
pega em uma semana ou um mês. O tranco tu pega no dia a dia, mas o estofo vem
da academia. Tu tem que usar muito bem a faculdade, pois a diferença está toda
aqui e não lá fora, depois.
Após a entrevista, Diogo participou de um bate papo com alunos de jornalismo da universidade Feevale no auditório do prédio azul, onde foi questionado sobre diversos assuntos e respondeu a todos os questionamentos.
Diogo Olivier será O Cara da próxima edição do Jornal Tri,
que sai na segunda quinzena de setembro.
Rafael da Roza, acadêmico do 4º semestre da Universidade
Feevale.
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